quarta-feira, 13 de junho de 2012

Semana interdisciplinar: Química


A Falta de Água na Velha Porto Alegre

 É difícil acreditar que uma cidade que fica na margem de um rio (ou estuário, como dizem alguns) das dimensões do Guaíba tenha tido, durante muito tempo, um problema crônico de falta de água potável. Mas foi o que aconteceu com Porto Alegre.

 Em 1839, o viajante Nicolau Dreys, que escreveu o livro “Notícia Descritiva da Província do Rio Grande do Sul” constatava o  problema, comentando: “se Porto Alegre tem alguma coisa que desejar, será talvez maior abundância de água potável. O problema da falta da água talvez tenha sido resultante da própria proximidade do Guaíba — com tanta água por perto, como os primeiros moradores iriam prever que a água potável seria um problema?

 Mas é que, à medida que foi aumentando a população, a sujeira e a poluição do Guaíba também foram aumentando. E o rio deixou de ser uma fonte confiável de fornecimento de água limpa.

 A primeira fonte de água da cidade — que tinha a finalidade de fornecer água potável para a população — foi construída mais ou menos no ponto que hoje é o encontro da avenida Borges de Medeiros com a rua Jerônimo Coelho, em 1780. Por isso, durante muito tempo, aquela rua ficou conhecida como “rua do Poço”.

 Durante 50 anos, foi a principal fonte pública de abastecimento da cidade — existiam, também, poços privados. No entanto, passado esse prazo, se começou a contestar a qualidade da água que fornecia e a localização — por estar no meio da rua atrapalhava o trânsito. Em função disso, em 1838 a Câmara Municipal mandou que um poço particular, que existia na atual Coronel Genuíno, fosse aberto ao público — o direito de ter acesso às fontes de água era garantido por lei.

 A situação de falta de água potável, entretanto, se agravou seriamente com a Revolução Farroupilha. A cidade foi sitiada pelos farrapos, o que impediu o acesso às vertentes de água existentes em sua proximidade. Para contornar o problema, foi construída uma ponte sobre o rio — uma espécie de cais longo, que permitisse que se recolhesse a água longe das margens, cheias de sujeiras.

 Mais tarde, foram construídas outras pontes com essa finalidade. Passada a revolução, a construção de fontes públicas continuou sendo a solução mais comum para Contornar o problema. Até que em 1861 foi criada a Companhia Hidráulica Porto-Alegrense, que iria garantir um luxo até então desconhecido — fornecimento de água diretamente em casa. Inicialmente, a captação da água era feita nas cabeceiras do arroio Dilúvio — o mesmo que, hoje, se arrasta pela Avenida Ipiranga, cheio de detritos e poluição.

(Jéssica, Mateus e Vanessa)


Água do rio Guaíba e seu tratamento

A cada segundo, a população de Porto Alegre despeja 3 mil litros de esgoto no Guaíba e no Rio Gravataí. No final de um dia, a imundície que a cidade transferiu para o manancial está na casa das centenas de milhões de litros. A esse volume somam-se dejetos domésticos, agrícolas e industriais produzidos por outros 5 milhões de gaúchos e que chegam depois de viajar pelos rios que alimentam o Guaíba. Essa imensa cloaca a céu aberto é a matéria-prima da água que bebemos.

Quem mora em Porto Alegre é testemunha do aqui se afirma. O odor e o aspecto da água na torneira estão distantes do ideal devido ao gosto de terra e o cheiro de terra. A alteração se deve a um fenômeno já característico do verão, sobretudo durante estiagens, na área do delta do Jacuí. Trata-se da grande proliferação de algas azuis ou cianobactérias no Lago Guaíba. O aspecto do Guaíba está lindo nestes dias (reprodução abaixo de Zero Hora), mas a bela imagem é um problema tanto para Porto Alegre como em Guaíba, onde também os moradores sofrem com alterações do odor e do aspecto da água.

Conforme o Dmae, o Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre, com o passar dos anos, a qualidade das águas do Lago Guaíba se deteriorou bastante por conta da poluição decorrente dos esgotos sem tratamento lançados nos rios que contribuem para a formação do Guaíba, além dos próprios dejetos da Capital. Os poluentes favorecem um grande desenvolvimento de algas azuis presentes no manancial, de onde são captados seis mil litros de água por segundo para a cidade de Porto Alegre. A transformação das águas é tão significativa que a alteração da cor do manancial, sobretudo na área mais próxima do Centro da Capital, é constatada até nas imagens de satélite de alta resolução.

O órgão municipal de água e saneamento da Capital esclarece que com a diminuição da chuva, a maior incidência de sol, a baixa turbulência da água e a alta temperatura se cria uma condição muito favorável à proliferação em grande quantidade dos organismos. As algas liberam as substâncias denominadas MIB e Geosmina, que causam o gosto e o cheiro característicos de terra na água que abastece a população. O Dmae, então, se vê obrigado a usar carvão ativado e dióxido de cloro, produtos cruciais para se reduzir o gosto e do cheiro na água.

A MetSul Meteorologia, por óbvio, não vai se aventurar a fazer previsão sobre quando a água irá melhorar em Porto Alegre, afinal existem fatores biológicos que não temos como prever, porém é possível fazer uma análise meteorológica do caso e que dão sustentação às explicações do órgão de saneamento. O regime de chuva está sim irregular, tem feito mais calor que a média e o número de horas de sol vem sendo alto.

Desde então, o sistema de tratamento de água de Porto Alegre está pagando caro — ainda mais caro do que o habitual — por ter um manancial tão poluído. Desde 2006, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) gastou mais de R$ 15 milhões só para aparelhar suas estações a enfrentar a presença do sabor e do cheiro. Essa é só uma parte da despesa extra. Por causa das cianobactérias, o investimento necessário para tratar uma mesma quantidade de água multiplicou-se em Porto Alegre. Levantamento feito pelo Dmae a pedido de Zero Hora aponta que, ao longo de 2012, o custo tem sido 224% maior por causa da necessidade de eliminar as substância indesejáveis. Tratar a água ficou três vezes mais caro. De R$ 70 desembolsados pelo departamento a cada mil metros cúbicos nos períodos sem floração, a conta subiu para R$ 226,80. De janeiro a maio, em lugar de gastar R$ 5,4 milhões, o Dmae gastou R$ 17,8 milhões.
Em apenas cinco meses, o custo-alga foi de R$ 12 milhões — o aumento não é repassado ao consumidor. Mesmo com todo esse investimento, moradores reclamam: o resultado final continua intragável.

(Patrícia Cardoso)

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